quarta-feira, 22 de abril de 2015

Lápides na Ilha de Moçambique



Quando em 2013 visitei a Ilha de Moçambique lembrei-me de fotografar as lápides do cemitério, todas que pudesse e depois partilhar na internet, para que aqueles que lá deixaram família e amigos, os possam “visitar”. Além disso, as lápides, na falta de livro de registos, acabam por ser uma fonte de informação de dados biográficos.

O cemitério foi maltratado, pilhado e vandalizado. Nota-se agora algum cuidado, construíram o muro, fecharam o portão e têm um guarda. Há campas que foram construídas e outras em que alguém escreveu a tinta o nome do defunto. É triste ver as campas partidas e saqueadas, em alguns casos por razão nenhuma, pois não se percebe o que poderia haver ali para roubar. A capela do cemitério nada tem, nada, nem pintura nas paredes, muito menos ornamentos ou mobiliário. Aliás, não encontrei em nenhuma das Igrejas da Ilha que visitei uma única imagem, nem mesmo um altar.  E o que é feito do património cultural português que lá estava? Desapareceu, disseram-me, evaporou-se sem deixar registo, sem haver inventário e pelos vistos, sem criar interesse em saber dele.

Pela minha parte, tentei documentar o que encontrei, para servir aos que lá deixaram os deles.
As fotos podem ser vistas aqui:

http://fotos.sapo.pt/alexforjaz/fotos/?uid=hACLZcjeKLzvIMzZiMgI

terça-feira, 21 de abril de 2015

A quinta Filipa d'Água

(Capela em Murfácem/Caparica. Apenas para em falta de melhor, ilustrar o "post". foto do autor.)

Tenho vindo a aprender muito com as pesquisas que faço. Encontrei esta referência curiosa à quinta Filipa d'Água, que fica na outra banda, Almada, Monte de Caparica. Com o nome original, apenas existe uma rua e agora uma rotunda. Existem notas sobre uma Capela, mas não tive a sorte de encontrar fotografias. Quanto aos edifícios que em tempos faziam a quinta, não me foi possível identificar, a saber: 

<..... arrendada a João Leitão, casas de habitação, adega, oficinas, tudo abarracado, vinha, árvores de fruto e terras de semeadura, a partir pelo Nascente com a estrada publica, Poente com Dona Maria Tomásia, norte com Francisco Nunes, e Sul com João Leitão, avaliada livre que é, em três contos cento e cinquenta mil reis. > (documento de 1868)

O nome vem da sua instituidora, D. Filipa d'Água Leite Pereira, julgo que por volta de 1650. 

O testamento de Guedes Pereira, explica a origem: 
< Declaro mais que eu possuo uma quinta vinculada em morgado, instituída por João Gonçalves Castelo Branco e sua mulher Filipa d’Água Leite Pereira e meu pai com o dinheiro que havia dado para remissão da divida a que estava obrigada a dita quinta, à qual se anexaram algumas propriedades, a saber quinta grande de Alcaniça de que se pagam 40 réis de foro ao Convento da Rosa dos Paulistas  e outra vinha que comprei no mesmo sitio de que se pagam oitocentos réis ao Convento de São Vicente de Fora e outro … juntei mais à dita quinta um quintal que nela tinha Tristão Guedes de Queiroz <….> paga-se de foro 80.500 réis ou o que constar na assinatura do aforamento.  > Lisboa, ano de 1702

Os apelidos "Guedes de Queiroz", "Gonçalves Castelo Branco"e "Guedes Pereira " são recorrentes na outra bandaneste período e merecem uma "noticia" neste blogue. Entretanto, se alguém conseguir esclarecer o nome Alcamisas(?) que não consegui decifrar, ou acrescentar informação, agradeço.


terça-feira, 14 de abril de 2015

No dia do Regicídio


Se há acontecimento histórico recente que marca a História de Portugal, é o Regicídio. Não será por isso de estranhar o meu interesse em consultar os jornais do dia seguinte ao assassinato, os de dia 2 de Fevereiro de 1908.

O artigo faz o relato emocionado dos últimos minutos da vida d’El Rei e do Príncipe Real. Primeiro , um homem de barba negra, surge da multidão, saca da carabina escondida no sobretudo e dispara o traiçoeiro, pelas costas d’ El Rei atingindo-o mortalmente na nuca. D. Carlos tomba morto para os braços da Rainha D. Amélia. Não satisfeito, o torpe assassino, ou melhor dizendo assassinos, varejam com balas o Príncipe D. Luís Filipe, que caí atingido no pescoço e nuca. Em desassombro, a Rainha levanta-se para amparar o filho, logo se debruçando para ouvir os seus últimos murmúrios. Na carruagem atrás, D. Manuel era também emboscado, mas tem tempo para se defender. Assim, escapa quase ileso.
Depois de breves momentos de confusão, a população reage impedindo que os criminosos disparem sobre D. Amélia. As carruagens arrancam a trote. Para trás, os três assassinos são engolidos na multidão que os lincha.  

A notícia ocupava nem metade da primeira página. Pensei que se fosse hoje teríamos no mínimo ligação em directo com 24 horas de noticiário continuo. 
….
Prossegui na leitura do dito jornal curioso sobre os acontecimentos daquele dia. Uma notícia pequena, em caixa na segunda página, dava conta da morte de uma Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. Era esta senhora casada com D. Luís Lobo da Silveira, e para que não existissem dúvidas, entre parêntesis escreveram: Alvito.


Quem seria? Um e outro, pois não os tinha encontrado nunca. Procurei nos livros, não fosse falhar-me a memória, e nada. <Naturalmente houve algum engano da redacção> pensei. <Impostores não devem ser, pois em 1908 ainda vivia o Barão de Alvito, pelo que ninguém se atreveria a usurpar a filiação, isso dava direito a um enxovalho em praça pública. Se fosse um caso recente, da actualidade, nada me surpreendia, pois mesmo no outro dia encontrei uns de Beja que se dizem Alvitos e não são, nem pinga, tão pouco cêpa, sendo que a casta que têm é mesmo da uva, e as ilusões resultado da fermentação desta> concluí.

Meses mais tarde, quis o destino que tropeçasse novamente na Sra. D. Gaudência Lobo da Silveira. No processo do imposto sucessório fica esclarecido que é casada com D. Luís Lobo da Silveira, filho dos Barões de Alvito. A certidão de casamento confirma-o, e encontrei a certidão de nascimento. Não há dúvida, D. Henriqueta Policarpa Lobo da Silveira e D. António Luis de Sousa Coutinho, Marqueses e Barões de Alvito tiveram mais um filho, nascido em 1832, e por isso o mais novo dos rapazes. É o sétimo filho, dos oito conhecidos, a ver: 


D. Eugénia Lobo da Silveira * 10.12.1824


D. José Lobo da Silveira Quaresma, 4º marquês e 16º barão do Alvito * 11.03.1826


D. Fernando Estanislau José António Lobo da Silveira * 07.05.1827


D. Isabel Juliana Lobo da Silveira * 19.06.1828


D. Manuel Lobo da Silveira * 17.11.1829


D. António Clemente Lobo da Silveira * 23.11.1830


D. Luís Lobo da Silveira *1832


D. Margarida Lobo da Silveira * 1835


Não deixou descendência. Não deixou memória. E porque razão foi apagado?

Descobrir a existência de D. Luís Lobo da Silveira parece ser coisa pouca, ou não ter importância nenhuma. Mas quando se estuda uma família que teve a presença na História de Portugal que os Alvitos tiveram, e se observa que um dos seus, na última geração de titulares foi esquecido, abrem-se novas perspectivas para a investigação e para a compreensão da sua história.


Por mim, sinto-me um Botânico que encontrou uma nova espécie, este espécime que dá pelo nome de D. Luís Lobo da Silveira.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Mercador de Goa.



Na Sé Catedral de Goa, capela do Espírito Santo, está sepultado Manuel de Morais Supico, que faleceu em 1630. Terá sido um rico mercador, senão o mais rico da época, na viragem do século XVI para XVII, na Índia.

É possível encontrar algumas referências em publicações, a este rico mercador, tanto em Português como Inglês. Parece ser um personagem com interesse histórico, pois a sua vida é espelho das oportunidades que as rotas comerciais marítimas da Índia, Macau, Japão e Costa do Indico, ofereceram aos mais aventureiros.

Manuel de Morais Supico, apesar de representar o sucesso económico de alguns, e encerrar em si, quem sabe, muitas histórias de alianças e disputas que nos ajudariam a compreender a história de Portugal no Oriente, parece não ter sido investigado.

É certo que talvez sejam os portugueses quem mais curiosidade tenham, a respeito das rotas comerciais e vidas da época. É de esperar que venha de entre nós portugueses alguém que se debruce sobre este personagem mas, não só por curiosidade se “levantam os mortos”. Quando deixamos aos outros a narração da nossa História, pode bem ser que o enviesamento não nos seja de todo favorável. Como tal, talvez seja de bom juízo procurar informação e divulgar o nosso saber, para que conste que somos nós os guardiões da memória dos nossos avoengos.  

No que diz respeito à Índia e aos arquivos históricos do período Português, é uma pena não existir em Portugal uma cópia dos livros paroquiais, das conservatórias, da administração local e de tantos outros documentos de grande interesse para a nossa história. Talvez um dia seja possível um projecto de cooperação entre a Torre do Tombo e os Arquivos de Goa. Oxalá!

Partindo da informação possível e acessível, na Sé de Goa, na lápide da Capela do Espirito Santo, lê-se o epitáfio seguinte:

“Sepultura de Manoel de Moraes Capico / fidalgo da Casa de Sua/ Majestade Commendador da / Ordem de Christo e Senhor da / Villa de são Seriz e / de seus herdeiros.”

Na parede da Capela outra lápide revela:

“ Nesta capella está instituído um morgado com huma missa cotediana e outras condições declaradas no vinculo do dito morgado. Nella está sepultado Manuel de Moraes Capico seu primeiro Instituidor natural de Tralos Montes fidalgo da casa de Sua majestade Commendador do abito de Christo e Senhor da Villa se S. Seriz. Foi vreador nesta cidade de Goa. Falleceo sendo autualmente Provedor da Santa Misericordia em 17 de Maio de 1630. Pertence esta capela ao morgado e aos erdeiros do dito defunto.”

fonte: retirada da internet


Manuel de Morais Supico é transmontano, e poderá ser ou não natural de São Seriz, actualmente Sanceris, o que a sua lápide declara é que era senhor da Vila de São Seriz, por volta dos finais do século XVI. É possível encontrar estes apelidos em São Seriz, um tal Afonso Supico (Felgueiras e Gaio) é referido como Senhor desta Vila.

É este rico mercador que institui o Morgado de Seridão, Curca e Goa-Velha, composto de Palmares, várzeas, marinhas e terras. Este morgado, ou morgados são confirmados pelo facto de terem sido transmitidos de geração em geração até serem vendidos por volta de 1868.


A sua ascendência não está estabelecida. Quanto à descendência, há quem lhe atribua muitos filhos do seu casamento com D. Maria (ou Madalena) das Chagas, mas só é possível apresentar  como certos dois nomes:

Donato de Morais Supico (G-2), que casou com D. Luísa de Sousa f. de Fradique Lopes de Sousa, de quem teve D. Francisca de Morais mulher de D. Manuel Lobo da Silveira fº. do Conde de Serzedas . Donato de Morais Supico casou 2ª vez com D. Leonor Pereira f. de António Pereira de quem teve D. Margarida Pereira mulher de Jerónimo de Utra Corte Real fº. de Luís de Utra Corte Real s.g.

D. Paula de Morais Supico (G-2), que foi 2ª mulher de José Pinto Pereira Embaixador à Suécia pelo Rei D. João IV. Casou 2ª vez com Francisco Vaz Pinto Sr. da Casa do Bom Jardim ttº. de Pintos § 8 N 13 de que foi 2ª mulher. Casou 3ª vez com José Froes de Andrade fº. de António Froes de Andrade.

A linha de Donato desaparece, extingue-se na sua neta. Resta a linha de D. Paula Morais Supico. 

Do seu casamento com José Pinto Pereira, D. Paula de Morais Supico (G-2)  dá à luz António Luís Pinto Pereira (G-3) (há referências que apontam para que António Luís seja filho de Francisco Vaz Pinto, mas parece ser mais coerente a hipótese de ser filho do primeiro casamento pois tem exactamente os mesmos apelidos).

António Luis Pinto Pereira (G-3), proprietário do Morgado de Curca, India. Fidalgo da casa de Sua Majestade. Cavaleiro confesso do hábito de Cristo. Morador na Quinta das Conchas, Lumiar, casa com D. Madalena Josefa de Ataíde, de quem nasce:
Cosme Damião Pereira Pinto (G-4), a 15 de Outubro de 1691, que veio a ser Governador de Macau de 4 Agosto 1735 – 25 Agosto 1738 e de 25.08.1743 a 30.08.1747.
Cosme Damião tem um filho natural com D. Teresa Maria Micaela, de nome:
António Xavier Pereira Pinto (G-5), nascido a 4 de Novembro de 1733. Foi
Sargento Mor, proprietário dos Morgados de Goa-velha, Seridão e Curca. Morador na sua Quinta das Conchas, Lumiar, Lisboa. Casa com D. Antónia Joaquina de Portugal, de quem nasce a 19 de Novembro de 1772:
Antónia Leonor Pereira Pinto Guedes de Ataíde Portugal (G-6) que casa com António Maria de Brito Pegado Pacheco de Vilhena. Deste casamento tem vários filhos, sendo o primogénito e herdeiro João Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco (G-7), nascido em 11.07.1796. Será nesta geração que o Morgado da Curca, Seridão, Goa-Velha é vendido por cerca de 54 contos de reis.