domingo, 31 de maio de 2015

Mais rápido que o Gatilho de Junot.


(Embarque da Família Real, Belém, 1807, fonte: Wikipédia)

É sabido que a Família Real se retirou em 1807 a quando das terceiras invasões francesas. Sabemos também que o Rio de Janeiro foi Capital de Portugal, bem como algumas aventuras pelas terras do Brasil. O que não fazia ideia era como o plano de retirada tinha sido pensado e quanto tempo tinha levado para o delinear e executar. Aqui fica um relato da extraordinária "epopeia"da transferência da corte para o Brasil.

No dia 25 de Novembro de 1807, por volta da meia-noite, à porta do Visconde de Rio Seco bateu um mensageiro D’El Rei D. João VI requisitando a sua presença imediata no Palácio da Ajuda. Sem se demorar nem um minuto, logo partiu para a Ajuda. Esperava-o Frei Custódio de Campos, logo ali nos claustros do Palácio. <- Bem-haja por acorrer tão depressa aos pedidos D’El Rei. Aguarde! > disse.  O Visconde, D. José Joaquim d’Azevedo, segurou nas mãos o pomposo chapéu, nervoso inspecionou as abas, os adereços, sacudiu a chuva , entretia as mãos e largava dos pensamentos, rápidos, vagos. O que seria? Porque razão o tinham chamado?


(Retrato Visconde de Rio Seco, Palácio Nacional da Ajuda). 

De política, pouco sabia o Visconde, já em contas era especialista. Em 1807 estava o Reino de Portugal num estado deplorável, os cofres vazios, muito fruto das somas imensas que o Governo Português tinha pago a Bonaparte, na tentativa de manter a neutralidade.  Esgotadas todas as iniciativas diplomáticas, tendo já lançado mão de todas as missões possíveis que se mostraram infrutíferas, pedidos todos os sacrifícios e feitas até propostas desfavoráveis ao decoro nacional, reuniu-se mais uma vez o Conselho de Estado. Tinha-se sabido naqueles dias que o exército inimigo tinha entrado em três pontos do território Português. A situação era dramática, sem tempo para lançar mãos às armas, até porque não havia orçamento, com Junot a entrar por Abrantes, Carasa ia para o Porto e Solano para o Alentejo e Algarves, o que fazer? Abandonar o Rei às mãos do inimigo? Aproveitar uma esquadra aportada em Belém e fazer desaguar a Capital de Portugal, o Rei e o Reino pelas águas do Tejo, rumo ao Brasil?


(Família Real Portuguesa, fonte : página da internet "História do Brasil")

<- Vossa Excelência pode acompanhar-me.> , seguiram em passo rápido para a sala onde estava reunido o Conselho de Estado. Ali, e de viva voz, foi Sua Majestade que lhe deu instruções sobre o embarque que devia acontecer impreterivelmente na tarde de 27 de Novembro, i, é, daí a menos de 48 horas.
Logo começou a azáfama. O Ex.mo Marquês de Vagos, Gentil Homem da Câmara, convocou o  Ex.mo Conde de Redondo, Vedor da Ucharia (despensa da casa real) , e Manuel da Cunha, Almirante da Esquadra, para conjuntamente organizarem os remessas necessárias das suas repartições, enquanto o Visconde de Rio Seco apressou-se ao Palácio das Necessidades para ali verificar  o que devia ser embarcado. Havia ainda que combinar com o Padre José Eloi que pertences da Santa Igreja Patriarcal poderiam ser transportados. Uma grande operação de logística, delegada a cada um dos chefes da própria repartição. Quando ao Visconde, este assentou barraca em Belém de onde viria a coordenar o dito embarque real.  


(Embarque da Família Real, Belém, Lisboa, fonte: Wikipédia.)


No dia 27 de Novembro, pelas 8 horas da noite, chegou ao cais Sua Majestade e sua família que logo embarcam. Por seu turno, o Visconde de Rio Seco, depois de mais umas peripécias acaba por conseguir também embarcar com a sua família rumo ao Rio de Janeiro. Assim foi. No dia 28 o tempo não estava de feição, no dia 29, com o vento a soprar de nordeste El Rei manda levantar âncora, com Junot às portas de Lisboa, a esquadra deixa as costas de Portugal. No dia 30, pelas 9 da manhã, Junot entra em Lisboa com o seu exército de cerca de 26.000 homens. A esquadra viria a desembarcar em Salvador da Bahia no ano seguinte, a 24 de Janeiro de 1908. 


(fonte: Postais de Portugal, internet)

Fontes: Exposição Analítica, e Justificativa da conduta e vida pública, do Visconde de Rio Seco, Rio de Janeiro, 1821). Wikipédia.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

von Oriola, e as voltas que o mundo dá.


Há poucos dias apareceu, finalmente, alguma informação sobre D. Joaquim José Lobo da Silveira, na página da Wikipedia Alemã. Digo finalmente em alemão, pois o sétimo conde de Oriola, em duas vidas, naturalizou-se Prussiano em 1822. Em Portugal, filho do 20 Marquês  e 120 Barão de Alvito, 60 Conde de Oriola, e de D. Bárbara de Meneses foi Gentil-Homem da Camara Del-Rei D. João VI, Provedor da Casa da Índia, Comendador da Ordem de Cristo, Enviado extraordinário Plenipotenciário junto da corte de Estocolmo, Enviado de Portugal aos Congressos de Viena de 1814 e Berlim, Embaixador extraordinário de Portugal em Paris.

(D. Joaquim Lobo da Silveira, 7 conde de Oriola, Graf von Oriola) 

Não me é clara a razão pela qual se torna Prussiano, nem porque razão ali lhe foi concedido o titulo de Conde von Oriola (Graf von Oriola) para si e para os seus descendentes. Na Prússia foi conselheiro de Sua Majestade o Rei da Prússia, Membro do Estado da Nobreza na Assembleia da Província da Lusácia onde comprou terras, Grã Cruz da Águia Vermelha da Prússia. Parece ser evidente que o Kaiser tinha por ele grande estima, e não consta que tenha sido pelo casamento que fez com Sofie Amelie Murray, na Suécia, filha do professor da Universidade de Gottingen Johan Andreas Murray, que venha alguma relação especial com o Kaiser, pois não encontro em Sofie alguma relação que o justifique.  Os motivos para tal tratamento da parte do Kaiser perderam-se no tempo, e agora já não há disso memória. O que consta é que em Portugal a notícia da sua naturalização não foi bem recebida. Diz-se que foi D. Miguel I, mas já ouvi que foi D. Maria quem lhe retirou a nacionalidade por “não ter as qualidades de um português”.  

Visto assim, à distância, diríamos que D. Joaquim, agora Graf von Oriola teria sido banido e ostracizado do Reino de Portugal, para nunca mais regressar. A história mostra o contrário. D. Joaquim Lobo da Silveira, Graf von Oriola tem várias filhas e dois filhos, um, Eduardo será General o outro, Deodato será Embaixador. É nas linhas descendentes destes que tornamos a vê-los regressar timidamente a Portugal. Ia jurar que todos falavam Português, pois um dos descendentes de Joaquim, nascido em 1895, seu bisneto vem a Portugal em 1960 e fala Português. Traz ainda a filha jovem, também versada na nossa língua. Ao fim de várias gerações, os laços emocionais continuam a ser alimentados, a memória prevalece.


(D. Eduardo Lobo da Silveira, Graf von Oriola; fonte: Olga Majeau) 

O mundo tão grande, e o tempo tanto o que já passou, é extraordinariamente organizado , colocando-nos ciclicamente nos mesmos percursos. Nesses caminhos, encontramos os outros ‘penitentes”, trazem perguntas que são as nossas respostas. Nem mais, duzentos e tal anos depois da saída de Portugal de D. Joaquim Lobo da Silveira, encontro uma sua neta à procura de respostas sobre a vida do seu bisavô Árpád Eperjesy de Szászváros et Toti, bisneto de D. Joaquim, Graf von Oriola. Árpád é filho de D. Armgard Lobo da Silveira, Gräfin von Oriola e de Albert Szaszvarosi Eperjesy, Diplomata ao serviço do Império Austro-Húngaro. Não causa surpresa o facto do Embaixador Albert Szaszvarosi Eperjesy tenha tido uma missão de 3 anos em Lisboa, entre 1902 e 1905.


(D. Armgard Lobo da Silveira, Gräfin von Oriola com o seu filho Árpád; fonte: Olga Majeau) 


Árpád Eperjesy de Szászváros et Toti nasceu em Roma, em 1882 e apesar de ter vivido até 1972, a sua vida e identidade era um mistério para a sal bisneta Olga. Na família, Elfi, avô de Olga e filha de Árpád contava as histórias dos seus avoengos, mas não de Árpád. E porque não?  Foram umas dezenas de cartas antigas, um anel e alguns retratos que aguçaram a curiosidade da bisneta que se lançou à descoberta. Soube que Árpád tinha sido deportado para um Gulag, nos anos 40, quando se encontrava em Budapeste.  Porquê? O que guarda este “personagem” só lendo o livro da sua bisneta, Olga Majeau.


quinta-feira, 14 de maio de 2015

A cobiça do Açúcar

(fonte: retirado da internet) 

António Rodrigues Pacheco, filho de Gaspar Pacheco e de D.Catarina Henriques Sena , casado com D. Catarina de Latá herda de seu pai Gaspar um Morgado na Brasil, Pernambuco.
António Rodrigues Pacheco morre em 1664, Lisboa, deixando dois filhos: D. Paula Pacheco e João Pacheco de Sousa (nasce em Lisboa em 1635).  Será, ou pelo menos admite-se que seria o seu filho varão quem o sucederia em todos os seus bens.
Terá sido entre a administração de António Rodrigues Pacheco e o seu filho João Pacheco de Sousa que o Pernambuco sofreu as invasões dos Holandeses, e que o engenho de Goiana Grande, de invocação a São Filipe e Santiago foi confiscado e posteriormente vendido a um tal Hans Willem Louisen, que além deste engenho “comprou” ainda outros no Pernambuco.
No entanto, em 1645 dá-se a “Insurreição Pernambucana” levando à expulsão dos Holandeses do Brasil.  Possivelmente terá havido algum processo de entrega das propriedades confiscadas aos antigos donos, pois em 1742, um neto dos anteriores, também de nome João Pacheco de Sousa deixa em testamento 1/3 do referido Morgado : “Por cinco contos, trezentos e trinta e três reis, caberá a ele por terça dos dezasseis contos de reis, em que foi estimado o engenho de açúcar com todas as suas pertenças e currais e fabrica, que está na capitania de Itamaracá, Goiania….> .

Em 1780, António Xavier Pacheco de Sousa, filho deste João Pacheco de Sousa e de D. Ana Josefa de Almeida Silva e Vilhena, sucessor em todos os vínculos de seu pai, toma “posse” da propriedade.

A partir desta data perde-se o rasto do Morgado. 

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Alfarrobeira

(fonte: blog Vila Espanca)


Também me acontece. Sempre que escolho uma fila para pagar, fico na pior. Se apoio uma lista, ganha a outra. Quando foi para escolher entre VHS ou Betamax, escolhemos Betamax. Se é para estar com D. Pedro, estamos com D. Miguel, quando se devia ser Republicano então somos Monárquicos. Se a opinião geral é assim, pois claro, estou no assado.
Foi o que aconteceu a João de Lisboa, secretário e escrivão da Câmara do Infante D.Pedro. Consta que o Infante regente lhe concedeu vários privilégios e bens, como uma casa na Mouraria que tinha pertencido a um mouro de nome Fornachos.  Tudo corria bem na vida de João de Lisboa, quando não é que na corte surge uma tramoia urdida por meia dúzia.
Quando a intriga se enquista na casa de D. Afonso V, o Rei dispensa os serviços do seu tio outrora regente, o Infante D. Pedro. Consta que o Duque de Bragança, o conde de Ourém e o arcebispo de Lisboa estavam à cabeça desta maquinação contra D. Pedro, pois este era defensor da centralização régia do poder, enquanto os conspiradores pretendiam manter a sua influência nos destinos de Portugal. O Infante retira-se para Coimbra, os seus apoiantes são perseguidos. Ainda antes do confronto, João de Lisboa vê os seus bens serem confiscados. Participa na Batalha de Alfarrobeira , 1449, no lado de D. Pedro, perdedor.
Todavia, é perdoado pouco depois de um ano após a batalha, é conduzido para o cargo de notário do reino, escrivão régio. É nesta altura que surge como administrador do Morgado da Granja, Almada. Há quem diga que <…Álvaro Guedes casado com Maria de Lisboa, filha única que foi do senhor secretário de estado João de Lisboa, a quem El Rei D. Afonso V fez mercê deste Morgado (da Granja)…>, mas há referências que apontam para que tenha sido D. Maria Pires Romão quem lhe deixou o Morgado da Granja. 1  
Resolvido o enigma de quem era João de Lisboa, agora há que descobrir quem era D. Maria Pires de Romão.

1.       Moreno, Humberto Baquero. A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado Histórico. Vol. II.  Biblioteca Geral da Universidade.  Coimbra 1980. 

sábado, 2 de maio de 2015

Mata Quatro


(fonte: Cartografia Digital da Direcção Geral do Cadastro) 

O nome parece um cabeçalho de um qualquer jornal sensacionalista, e quem sabe, algures na história algum herói matou quatro, por isso a homenagem, mas sobre isso não tenho informação. Certeza é que se trata de um lugar, uma terra que fica em Almoster, Santarém. Actualmente, parece que o que tem de significativo é um marco geodésico. Não encontrei qualquer outro elemento notável. Na história recente aparece por ter sido local da batalha de Almoster, em 1834, durante a guerra civil.
Se recuarmos mais alguns séculos, encontramos um Morgado com a designação do seu nome,  Mata Quatro. Era assim composto:
< Morgado de Mata Quatro, situado na freguesia de Almoster, Concelho de Santarém, …….., e compondo-se de cento e quarenta e uma propriedades, ….., compõe-se de quatro casais denominados Mata Quatro, Pereiro, Almodolim e Carvalhal situados na Ponte do Celeiro, freguesia de Santa Maria de Almoster, concelho de Santarém, e confrontam pelo norte com Paul Freixial, Poente com Real Mosteiro das freiras de Almoster, Sul com a quinta da Póvoa da Isenta, pertencente a Francisco José Araújo, e nascente até à Ponte do Celeiro com estrada publica e daí para cima com Paul de Almodolim e Mata Quatro, hoje pertencente a Francisco Hipólito Marrecos, o qual pega com o de Cláudio do Couto Silva, e acaba com o Paul do Freixial que é do Tenente Coronel Gorjão>.
<Em escritura de 1860 foi convencionado aforá-lo ao Excelentíssimo Visconde de Fornos de Algodres, pelo foro, clausulas e condições seguintes, na forma do Decreto de quatro de Abril de mil oitocentos trinta e dois, artigo 22….por três vidas.>.
Este vínculo foi estabelecido por Gil Vasques Leitão, que segundo Felgueiras Gaio, foi escudeiro, e vassalo dos Reis D. Fernando e D. João I instituiu um Morgado de certos casais em Almada e junto de Almoster por escritura feita pelo Tab.am Martim Gomes em 17 de Setembro de 1401.
O proprietário António Maria de Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco vende-o em 1869 à empresa comercial Almeida Camacho Matos e Companhia em 1869. E mais notícia, não tenho.