quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Mercador de Goa.



Na Sé Catedral de Goa, capela do Espírito Santo, está sepultado Manuel de Morais Supico, que faleceu em 1630. Terá sido um rico mercador, senão o mais rico da época, na viragem do século XVI para XVII, na Índia.

É possível encontrar algumas referências em publicações, a este rico mercador, tanto em Português como Inglês. Parece ser um personagem com interesse histórico, pois a sua vida é espelho das oportunidades que as rotas comerciais marítimas da Índia, Macau, Japão e Costa do Indico, ofereceram aos mais aventureiros.

Manuel de Morais Supico, apesar de representar o sucesso económico de alguns, e encerrar em si, quem sabe, muitas histórias de alianças e disputas que nos ajudariam a compreender a história de Portugal no Oriente, parece não ter sido investigado.

É certo que talvez sejam os portugueses quem mais curiosidade tenham, a respeito das rotas comerciais e vidas da época. É de esperar que venha de entre nós portugueses alguém que se debruce sobre este personagem mas, não só por curiosidade se “levantam os mortos”. Quando deixamos aos outros a narração da nossa História, pode bem ser que o enviesamento não nos seja de todo favorável. Como tal, talvez seja de bom juízo procurar informação e divulgar o nosso saber, para que conste que somos nós os guardiões da memória dos nossos avoengos.  

No que diz respeito à Índia e aos arquivos históricos do período Português, é uma pena não existir em Portugal uma cópia dos livros paroquiais, das conservatórias, da administração local e de tantos outros documentos de grande interesse para a nossa história. Talvez um dia seja possível um projecto de cooperação entre a Torre do Tombo e os Arquivos de Goa. Oxalá!

Partindo da informação possível e acessível, na Sé de Goa, na lápide da Capela do Espirito Santo, lê-se o epitáfio seguinte:

“Sepultura de Manoel de Moraes Capico / fidalgo da Casa de Sua/ Majestade Commendador da / Ordem de Christo e Senhor da / Villa de são Seriz e / de seus herdeiros.”

Na parede da Capela outra lápide revela:

“ Nesta capella está instituído um morgado com huma missa cotediana e outras condições declaradas no vinculo do dito morgado. Nella está sepultado Manuel de Moraes Capico seu primeiro Instituidor natural de Tralos Montes fidalgo da casa de Sua majestade Commendador do abito de Christo e Senhor da Villa se S. Seriz. Foi vreador nesta cidade de Goa. Falleceo sendo autualmente Provedor da Santa Misericordia em 17 de Maio de 1630. Pertence esta capela ao morgado e aos erdeiros do dito defunto.”

fonte: retirada da internet


Manuel de Morais Supico é transmontano, e poderá ser ou não natural de São Seriz, actualmente Sanceris, o que a sua lápide declara é que era senhor da Vila de São Seriz, por volta dos finais do século XVI. É possível encontrar estes apelidos em São Seriz, um tal Afonso Supico (Felgueiras e Gaio) é referido como Senhor desta Vila.

É este rico mercador que institui o Morgado de Seridão, Curca e Goa-Velha, composto de Palmares, várzeas, marinhas e terras. Este morgado, ou morgados são confirmados pelo facto de terem sido transmitidos de geração em geração até serem vendidos por volta de 1868.


A sua ascendência não está estabelecida. Quanto à descendência, há quem lhe atribua muitos filhos do seu casamento com D. Maria (ou Madalena) das Chagas, mas só é possível apresentar  como certos dois nomes:

Donato de Morais Supico (G-2), que casou com D. Luísa de Sousa f. de Fradique Lopes de Sousa, de quem teve D. Francisca de Morais mulher de D. Manuel Lobo da Silveira fº. do Conde de Serzedas . Donato de Morais Supico casou 2ª vez com D. Leonor Pereira f. de António Pereira de quem teve D. Margarida Pereira mulher de Jerónimo de Utra Corte Real fº. de Luís de Utra Corte Real s.g.

D. Paula de Morais Supico (G-2), que foi 2ª mulher de José Pinto Pereira Embaixador à Suécia pelo Rei D. João IV. Casou 2ª vez com Francisco Vaz Pinto Sr. da Casa do Bom Jardim ttº. de Pintos § 8 N 13 de que foi 2ª mulher. Casou 3ª vez com José Froes de Andrade fº. de António Froes de Andrade.

A linha de Donato desaparece, extingue-se na sua neta. Resta a linha de D. Paula Morais Supico. 

Do seu casamento com José Pinto Pereira, D. Paula de Morais Supico (G-2)  dá à luz António Luís Pinto Pereira (G-3) (há referências que apontam para que António Luís seja filho de Francisco Vaz Pinto, mas parece ser mais coerente a hipótese de ser filho do primeiro casamento pois tem exactamente os mesmos apelidos).

António Luis Pinto Pereira (G-3), proprietário do Morgado de Curca, India. Fidalgo da casa de Sua Majestade. Cavaleiro confesso do hábito de Cristo. Morador na Quinta das Conchas, Lumiar, casa com D. Madalena Josefa de Ataíde, de quem nasce:
Cosme Damião Pereira Pinto (G-4), a 15 de Outubro de 1691, que veio a ser Governador de Macau de 4 Agosto 1735 – 25 Agosto 1738 e de 25.08.1743 a 30.08.1747.
Cosme Damião tem um filho natural com D. Teresa Maria Micaela, de nome:
António Xavier Pereira Pinto (G-5), nascido a 4 de Novembro de 1733. Foi
Sargento Mor, proprietário dos Morgados de Goa-velha, Seridão e Curca. Morador na sua Quinta das Conchas, Lumiar, Lisboa. Casa com D. Antónia Joaquina de Portugal, de quem nasce a 19 de Novembro de 1772:
Antónia Leonor Pereira Pinto Guedes de Ataíde Portugal (G-6) que casa com António Maria de Brito Pegado Pacheco de Vilhena. Deste casamento tem vários filhos, sendo o primogénito e herdeiro João Brito Pereira Pinto Guedes Pacheco (G-7), nascido em 11.07.1796. Será nesta geração que o Morgado da Curca, Seridão, Goa-Velha é vendido por cerca de 54 contos de reis. 

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