(fonte: Instituto de Investigação Cientifica Tropical)
Consta que a árvore do cacau for levada
para a Ilha do Príncipe, como planta ornamental, pelo Coronel José Ferreira Gomes. Como quase
todas as culturas tropicais, o cacaueiro deu-se muito bem naquelas latitudes, e
em pouco tempo tornou-se na riqueza do Príncipe. Como cultura extensiva que
é, laboriosa e de trabalho constante ao longo do ano, é altamente exigente em de
mão de obra. Para que exista mão de obra, é necessário que as condições de
salubridade da ilha permitam a sobrevivência dos seus habitantes, coisa que não
estava garantida, muito pelo contrário, quando o Príncipe é atingido por uma
autentica doença alienante e mortal. Ou se abandonava a ilha ou se fazia frente
à doença misteriosa.
Para dar um exemplo daquilo que era a
mortandade, no ano de 1855 contavam-se 3.000 habitantes nativos, em 1907 restavam
350. Outro indicador aponta para que entre 1902 e 1913 tenham morrido 2.525 indivíduos,
sendo que em 1902 eram cerca de 3.800 os habitantes.
Reza a história que por volta de 1825
começou a ser observada na ilha a “mosca do Gabão” (Glossina Palpalis). Nessa época havia um intenso comércio entre a
Ilha e o continente Africano de gado e mercadoria, e também de transporte de
escravos.
(fonte: Instituto de Investigação Cientifica Tropical)
Até ao ano de 1870 eram raros os casos de “Hipnose”.
No ano seguinte, em Lisboa, na Sociedade de Ciências Médicas, o famoso médico
colonial Ferreira Ribeiro faz uma comunicação sobre este importante tema, sob o
título “Moléstia de Diagnóstico obscuro”. A moléstia era já bem patente em várias
regiões de Angola, mas não tanto no Príncipe. Porém, em 1877 dá-se um revés
decisivo. Nesse ano entram na ilha numerosos trabalhadores vindos do Quanza e
região do Cazengo onde a doença alastrava. O número de casos apresentou nesse
ano tal incremento que passou a ser considerada “flagelo”. A taxa de
mortalidade da tal moléstia era de 100%. A corroborar essa asserção é de
referir que tendo a Roça Porto-Real contratado em 1894, 600 serviçais
provenientes de Angola, região do Cazengo, passados 5 anos todos haviam perecido,
vítimas da doença da hipnose que traziam incubada.
(fonte: Instituto de Investigação Cientifica Tropical)
A metrópole preocupada resolveu enviar uma
missão científica. Assim em 1901, uma missão constituída por Aníbal Bettencourt
que assumiu a chefia da mesma, por Ayres Kopke, Gomes Andrade e Correia Mendes,
devendo-se acentuar ter sido esta expedição médica uma das primeiras missões científicas
que demandaram o continente Africano e a primeira para o estudo da doença do
sono. Entretanto a Royal Society of London apoiou duas missões britânicas de
estudo da doença, em Entebe (Uganda).
A expedição esteve no Príncipe em Maio de
1901, tendo verificado que a Roça Sundy, com uma população aproximada de 400
serviçais baixavam diariamente ao hospital privativo, cerca de 10 doentes, em média,
todos eles atingidos pela hipnose.
(fonte: imagens disponíveis na internet)
O mundo científico dedica-se a investigar
as origens e transmissão da doença. Surge a controvérsia entre a comunidade médica
portuguesa e inglesa. Seria bactéria ou parasita?
Foi graças às descobertas de Manson , de
Fonde e Dutton, que se identificou o vector da doença, a Glossina, e isolou o tripanossomas responsável pela doença. Com
estes conhecimentos foi possível propor medidas de saneamento e combate.
Assim, numa segunda missão chefiada por Correia
Mendes, que incluiu Damas Mora, Bruto da Costa e Silva Monteiro que permaneceu
1 ano no Príncipe, entre 1907-08, foram estudadas as condições para a propagação
da doença e testados vários fármacos no seu combate, dentro os quais o Atoxil que veio a ser o mais bem sucedido. Esta equipa propõe medidas de saneamento e
combate à mosca e controle do depósito da doença.
Com trabalho e disciplina, em 1914 a doença encontrava-se erradicada. Bravo!
(fonte: "Comunicação apresentada ao I Congresso Nacional de Medicina Tropical, celebrado em Abril de 1952, Lisboa". )
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